CONVOCADOS
COMO HERÓIS PARA EXTRAIR LÁTEX NA SELVA E ALIMENTAR AS MÁQUINAS DA GUERRA
NORTE-AMERICANA, OS ‘SOLDADOS DA BORRACHA’ FORAM ABANDONADOS À PRÓPRIA SORTE
NAS FLORESTAS DO AMAZONAS, DO ACRE.
SOLDADOS DA BORRACHA
Houve um segundo surto da borracha no Brasil durante a
segunda guerra mundial, quando aumentou a demanda pela borracha e os
brasileiros sujeitos ao serviço militar tinham que escolher entre lutar na
guerra ou trabalhar como seringueiro na Amazônia. Estes "Soldados da
Borracha" nunca conseguiram voltar para a terra deles, porque nunca foram
pagos pelos Seringalistas.
Com o falecimento dos Seringalistas, devido á concorrência
internacional, os Seringueiros ficaram entregues á própria sorte. Até hoje eles
sobrevivem cultivando, caçando e vendendo borracha por um preço muito baixo.
09 de
Junho de 2013
ANA CELIA
OSSAME
Borracha
na Amazônia é quase sempre sinônimo de prosperidade e riqueza graças ao período
econômico vivido no início do século passado. Mas em meados desse mesmo século,
a história dos “Soldados da Borracha”, atraídos para a Amazônia no início da
Segunda Guerra Mundial, tem um enredo que pouco conhecido da sociedade. Da
mesma forma como os convocados para o front de guerra na Europa, milhares de
nordestinos vieram a servir à pátria enfrentando inimigos como insetos, animais
selvagens e as dificuldades de uma floresta inóspita sob promessa de riqueza
fácil garantida pelo governo brasileiro, mas que não aconteceu para nenhum dos
trabalhadores chamados de “arigós”.
Quem tem
detalhes curiosos desses relatos é o professor Frederico Alexandre de Oliveira
Lima. Filho de pais nordestinos, ele trabalhava no Exército e sempre recebia
pedidos de concessão de benefícios a ex-seringueiros e tinha que negar, por
falta de amparo legal, o que o levou a interessar-se em estudar o assunto.
Aprovado para o curso de mestrado em História na Universidade Federal do
Amazonas (Ufam), ele dedica-se ao tema “Da guerra na Floresta aos escombros da
História: O ocaso dos Soldados da Borracha”, quando dá voz aos homens, mais
conhecidos como Soldados da Borracha que continuam numa batalha que chega aos
dias atuais pelo reconhecimento do seu papel como participantes da guerra, só
que em outro campo: a floresta amazônica para onde veio produzir a borracha,
matéria prima para a manutenção das máquinas de guerra americana.
COMBATE
Encravados
nas matas, com jornadas de trabalho semelhantes à de escravos, tinham comida,
roupa, transporte e remédio controlados pelos patrões. O status de guerreiros,
com numeração e nome de guerra dado pelo Governo, não serviu para muita coisa.
“Ao fim da guerra, enquanto os ex-combatentes foram indenizados, os soldados da
borracha foram esquecidos no meio da selva”, afirmou o pesquisador. Aqueles que
não morreram com as doenças e os abusos dos patrões, ficaram sem condições de
retornar aos estados de origem e foram entregues a própria sorte. Aos que
buscaram emprego nas capitais empregos, restava atividades como braçais porque
não tinham qualificação.
Pelos
registros de agências governamentais que subsidiaram as passagens de retorno de
Soldados da Borracha, reunidos pelo historiador Pedro Martinello, 6.030
imigrantes haviam deixado os seringais entre 1945 e 1947. “De 2.160 migrantes
que deixaram os seringais em 1945, 804 pessoas sofriam de malária, enquanto os
outros 712 tinham desajuste econômico”, apontou ele, citando que as capitais
amazônicas foram obrigadas a absorver o contingente de migrantes que abandonou
os seringais. Nem mesmo a compensação financeira dada pelo governo dos Estados
Unidos chegou às mãos desses soldados. Acredita-se que este recurso foi usado
para a construção de Brasília. O fato foi alvo de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) que não chegou à conclusão alguma.
É motivo
de queixa também, de acordo com o pesquisador, o fato dos ex-combatentes da
Força Expedicionánaria Brasileira (FEB) terem ganho financiamento para a construção
da casa própria e preferência em concursos públicos, enquanto a eles restou o
abandono e o esquecimento.
VIVENDO
EM SINCRONIA COM A MATA
De
extratores de borracha, mão-de-obra entre a seca do nordeste e a possibilidade
da fortuna, os seringueiros passaram a ser uma “população tradicional”, apegada
a seu território, vivendo em seu próprio ritmo de sincronia com a floresta,
escreve Frederico Lima, na tese para obter o título de mestre, orientada pelo
professor doutor Luiz Balkar, da Ufam.
Mais de
40 anos depois, apenas com a morte de Chico Mendes e as discussões da
Assembleia Nacional Constituinte, essas vozes passaram a ser ouvidas em âmbito nacional.
Um dado interessante é que eles não se viam como homens da agricultura, mas sim
como homens da floresta, que tinham a agricultura como atividade secundária,
observa o pesquisador.
“Por
isso, a luta deles não era por uma simples indenização em dinheiro, mas pelo
reconhecimento como soldado da borracha, como homem da floresta”, explica
Frederico, ao lembrar que esses homens dedicaram suas vidas ao esforço de
extração do látex, não só para movimentar a máquina de guerra, mas também para
preservar a floresta em pé e manter o seu modo tradicional de vida.
DESIGUALDADE
QUE PERDURA
Hoje, os
seringueiros sobreviventes, sua maioria, não ganham mais que um salário mínimo
e meio de pensão, enquanto os ex-combatentes tem esse vencimento no valor de R$
5 mil, além de assistência médica e social. “Cada um tem uma história”, o
lembra, falando das humilhações sofridas dos patrões por conta das dívidas. Trocava
borracha por mercadoria, mas sempre devia para o patrão. “A produção nunca
chegava”.
COM TODA
ESSA DIFICULDADE ONDE SURGIU A HOMENAGEM PARA TODOS OS SERINGUEIROS QUE
PASSARAM POR ESSA LUTA DE SOBREVIVÊNCIA A 1º ULTRAMARATONA DO SERINGUEIRO DO PÉ
RACHADO, 100 QUILOMETRO DE CORRIDA.